O artista gaúcho Glauco Rodrigues (Bagé-RS, 1929 - Rio de Janeiro - RJ, 2004) desde jovem se interessou pela arte e ainda adolescente começou a pintar. Aos 18 já havia participado de uma coletiva e aos 20 pode ir estudar na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro através de uma bolsa concedida pela prefeitura da sua terra natal.


Em 1951, cria juntamente com Glênio Bianchetti, Jacy Marschin, Carlos Scliar, José de Morais e Danúbio Gonçalves o Clube de Gravura de Bagé. No entanto, foram Scliar, Bianchetti, Gonçalves e Rodrigues que ficaram com seus nomes vinculados ao clube e foram os responsáveis pela criação do Museu da Gravura Brasileira. Esses artistas defendiam a popularização da arte através da apresentação da temática social e regional sob um estilo figurativo realista/expressionista.

Em 1954, passa a integrar o Clube de Gravura de Porto Alegre ao lado de Carlos Scliar e Vasco Prado. Ambos clubes são pioneiros na gravura no Brasil e guiados pelo realismo socialista. Sua intensa atividade nas associações de gravadores permite que Glauco aprimore a sua técnica como desenhista na realização de trabalhos voltados principalmente para a representação do homem do campo.


Sua atividade como artista gráfico inicia ao mudar-se para o Rio de Janeiro em 1959, quando em parceria com Carlos Scliar, Jaguar, Bia Feitler, entre outros, passa a integrar a equipe da inovadora revista Senhor, que apresentava um alto padrão estético de design editorial. Glauco foi responsável tanto por 22 capas e inúmeras ilustrações do interior da revista.


Vive em Roma de 1962 a 1965 com o objetivo de implantar o setor gráfico da Embaixada do Brasil na Itália. Passa a interessar-se pelo abstracionismo e cresce sua carreira como artista: realiza exposições individuais em Roma e Munique e coletivas em Stuttgart, Spoleto, Kassel e Washington,  participa em 1964 da delegação brasileira na 32ª Bienal de Veneza, ao lado de nomes como Tarsila, Volpi e Krajcberg. 



Retorna ao Brasil em 1965 e retorna com ele o interesse pelo figurativismo motivado pela arte pop passando a integrar a cena artística local e a participar de importantes exposições da história da arte nacional como Opinião 66 e mostra Nova Objetividade Brasileira ambas no MAM-RJ e é premiado na 9º Bienal de São Paulo em 1967. 


Glauco Rodrigues também dialoga com o movimento tropicalista e sua produção passa a tratar da cultura brasileira de maneira inovadora e radical. Essa tendência irá se concretizar paulatinamente nas exposições Auto-retrato (1966), Cenas de Praia (1969), Terra Brasilis (1970).  A partir dessa última exposição, concretiza-se um estilo que perdurará: o fundo branco, as figuras atemporais, a antropofagia sobre outros pintores como Portinari, Almeida Junior, Victor Meireles e Leandro Joaquim. 


Segundo o crítico Roberto Pontual (1984), Glauco pôs em marcha um sistema todo seu de linguagem, o qual merece a etiqueta de tropicalismo crítico: "Pintura destinada a encarar e a revelar o Brasil com olho crítico, através de uma montagem “carnavalesca”, onde histórias, imagens e fantasias do nosso passado e presente se unem. Os índios da velha Pindorama e os banhistas de Ipanema se conjugam no caldeirão brasileiro". Glauco Rodrigues retrata o exotismo e a diversidade brasileira de maneira crítica, rompendo com os estereótipos e desafiando os cânones.


A partir de meados da década de 70 retoma suas origens gaúchas e sua pintura passa a retratar novamente as paisagens da fronteira sulina. Pode ser que Glauco, vivendo anos fora do Rio Grande do Sul, sentisse falta daquilo que anos depois o músico e escritor gaúcho Vitor Ramil chamaria de Estética do Frio.



Com uma produção intensa Glauco não dedicou-se só a pintura ou a gravura, também foi muito ativo no âmbito gráfico ilustrando livros de escritores renomados  como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Dalton Trevisan, João Cabral de Melo Neto, entre outros; elaborando capas de discos para músicos como João Bosco, Jorge Mautner, Neguinho da Beija-Flor e Arthur Moreira Lima, e realizou cartazes para teatro e cinema. Também foi um grande retratista e inúmeros personagens ilustres preenchem o seu portafólio. Sua obra pertence a museus e coleções particulares nacionais e estrangeiras, além de haver sido premiado em inúmeras ocasiões. 



Entre maio e agosto de 2013 a Caixa Cultural apresentou a retrospectiva Universo Gráfico de Glauco Rodrigues, que reúne um significativo número de obras gráficas, entre litografias e serigrafias, além de ilustrações para revistas, livros e discos.

Parte do que foi exposto pode ser visto  na página web www.universoglaucorodrigues.com.br. A página mostra não só uma seleção de obras, como também estão disponíveis os textos do catálogo e uma biografia do artista. 






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